Texto de Alexandre Scussel do MundoGEO
Atentos aos problemas causados por
desmoronamentos em regiões de encostas, geólogos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT) investiram
em uma iniciativa social e educativa: elaborar um filme para conscientizar a
população e os técnicos que trabalham em zonas de riscos e evitar
tragédias na temporada de chuvas. O curta-metragem “Áreas de risco: informação para prevenção”, que está
disponível na internet, traz dicas úteis em uma linguagem acessível. “A ideia
de fazer o vídeo surgiu da necessidade de ter mais um instrumento para educação
tanto do pessoal de prefeitura quanto da população, principalmente a
população”, conta o geólogo pesquisador e um dos idealizadores do filme,
Eduardo Macedo, já no início da gravação.
Como parte do Plano Municipal de Redução
de Riscos de Mauá (SP), o curta-metragem tem a proposta de prevenir acidentes
como o acontecido em 2011 naquela região, quando seis pessoas morreram durante
as chuvas de janeiro. “Não trabalhamos apenas na emergência. A gente tem a
ideia de que a prevenção é muito mais barata e mais fácil”, explica o geólogo
Fabrício Mirandola, que também participou do projeto audiovisual e atua no
Centro de Tecnologias Ambientais e Energéticas (Cetae), unidade técnica do IPT
voltada para o desenvolvimento de ações associadas a políticas públicas. “Nosso
trabalho com desastres naturais é extremamente social”, acrescenta o
especialista, referindo-se ao objetivo de ensinar a autoproteção ao cidadão,
levando o conhecimento para que ele faça o básico: identificar a situação de
risco, deixar o local e chamar a Defesa Civil.
Atualmente há na capital paulista 1.600
favelas, das quais pelo menos 500 têm deslizamentos. “Esse problema já está
instalado”, pontua o pesquisador Eduardo Macedo, que também atua como
conselheiro no CREA-SP, representando o sindicato dos geólogos. Diante desse
contexto, a equipe de geólogos dedica-se a planejar medidas de proteção para
essa parcela da sociedade que não pode morar em áreas mais seguras.
“Como posso fazer para que as pessoas
habitem um local da melhor forma, como faço isso acontecer levando em conta o
ambiente físico e a ocupação sustentável?”, são perguntas que os especialistas
em levantamentos geológicos se fazem durante as pesquisas. Nesse sentido, o
vídeo traz sugestões para o dia a dia da comunidade, como evitar lançar água
utilizada no terreno do vizinho e sempre observar movimentações do terreno,
evidenciadas pela inclinação de muros, árvores e postes. Com essas atitudes, os
cidadãos estarão sempre alertas para problemas como rachaduras em paredes ou
início de desabamento da construção.
O filme também chama atenção para o
principal causador de desmoronamentos: a água utilizada nas casas. “Tem que
fazer sistemas de drenagem eficientes e que levem essa água para a parte de
baixo da encosta”, orienta Eduardo Macedo. Fora disso, em períodos chuvosos, a
água “infiltra o solo e vai aumentando sua umidade. Além da água da chuva, o
esgoto lançado nessas encostas aumenta ainda mais as chances de esse
deslizamento acontecer”. Outro fator crítico é o lançamento indevido de lixo e
entulho no terreno. “Esse material não tem uma liga, uma resistência. Quando
chove, é mais fácil ele deslizar e atingir as moradias que estão abaixo”,
alerta o vídeo que nos próximos meses será legendado em inglês e espanhol para
auxiliar nos trabalhos de prevenção de acidentes em outros locais do mundo.
“Fizemos um vídeo que pudesse ser reproduzido em qualquer local do Brasil. E
agora vamos internacionalizá-lo”, comenta o pesquisador e roteirista Eduardo
Macedo.
POLÍTICAS
PÚBLICAS
No Brasil, o tema gestão de riscos
ganhou força com a aprovação da Lei 12.608, em abril deste ano, que institui a
Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), o Sistema Nacional de
Proteção e Defesa Civil (SINPDEC) e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa
Civil (CONPDEC). Os profissionais que lidam com problemas relacionados a
enchentes e deslizamentos aprovaram a legislação, como afirma o consultor em
Geologia de Engenharia e ex-diretor da Divisão de Geologia do IPT, Álvaro
Rodrigues dos Santos, em seu artigo “Áreas de risco: A Lei nº 12.608 e os
limites dos alertas pluviométricos”. “O meio técnico brasileiro saudou
efusivamente a aprovação. Essa moderna legislação é fruto direto das intensas
discussões promovidas pelas associações técnicas brasileiras em reação ao
recrudescimento das tragédias ocorridas em diversos estados brasileiros nos
últimos anos”, comenta Álvaro.
O texto também enfatiza que a lei tem em
sua base conceitual e estratégica a abordagem preventiva, com foco na
eliminação de zonas de risco e, por consequência, na redução de acidentes:
“Diferentemente dos terremotos, vulcanismos e tufões, nossos desastres são
todos associados a erros cometidos pelo próprio homem na ocupação de áreas
geologicamente inadequadas para tanto, ou áreas que, por suas características,
exigiriam no mínimo técnicas construtivas para elas especificamente
apropriadas”. Para o geólogo, a questão “áreas de risco” está vinculada às
políticas públicas de planejamento urbano e habitação popular. “Somente sob
essa abordagem, [a questão] terá solução virtuosa e definitiva”, finaliza.
Fonte: Assessoria de Comunicação e Marketing do Confea
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